1º S24o Velo Corvo- Sintra

Sábado à tarde. Tínhamos acabado de comer no chinês e a chuva começava a cair com mais intensidade. Por alguns minutos pensámos em não ir. Mas depois decidimos: para quê ficar em casa? Para quê ser como a maioria e jogar pelo seguro? Afinal de contas, era só chuva. A vida tem de ser uma aventura.

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Carregámos as bicicletas cheias de tralha e lá fomos nós apanhar o comboio para Sintra.

O comboio para Sintra passa por tudo o que tentamos escapar com estes S24O. Urbanização desenfreada. Carros em todos lado. Estradas infinitas. Confusão eterna.

Em Sintra, as coisas melhoram. Percebe-se porque é que esta vila é considerada património mundial. Mas não viemos cá para comer queijadas num dos cafés atolhados de turistas. O nosso destino era outro. Começámos a subir para a Peninha, altitude cerca de 500 metros.

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O céu, meio nublado. A chuva tinha parado. À medida que subíamos a rampa da Pena, o nevoeiro aumentava. Mais acima, pelos 400 metros, o nevoeiro adensou ainda mais. A floresta ganhou uma dimensão nova. A vida também. Nunca se irão lembrar daquela vez que foram ao centro comercial. Mas de certeza que se vão lembrar daquela vez que foram a Sintra e acamparam no meio do nevoeiro.

Passando os Capuchos, no meio do nevoeiro, vejo uma luz: era o António, vindo de Cascais. Seguimos então a estrada, até à Peninha. Por si só, a Peninha já é um local mágico. Com o intenso nevoeiro, mais mágica fica.

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Acampar no Inverno tem um senão. Subir a montanha e montar acampamento na escuridão.

No Verão, podemos subir de dia e ver o por do Sol.

No Inverno, temos frio e o silêncio da Natureza. Foi isso que sentimos. Silêncio.

Tendas montadas, estava agora na altura de um bem merecido jantar. O António trouxe a sua excelente maionese feita em casa, pão e frutos secos. Eu levei arroz com vegetais e bacon. Queijo do bom. Para a sobremesa, fruta e chocolate.

Ninguém ficou com fome.

A tenda para esta noite era uma já antiga. Do exército francês, em lona. Sim, é um bocado mais pesada do que uma tenda mais recente. Mas é espaçosa e sobretudo, quente. Lá dentro, sentimos-nos mesmo protegidos do frio.

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De manhã, o cenário era outro. A luz trazia mais detalhe aos recantos que ontem eram sombra.

 

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Altura então de preparar o café. O moinho de café portátil, um Porlex, faz o seu trabalho. De seguida, o café é feito com uma cafeteira italiana antiga, aquecida por uma lamparina a álcool. Sempre preferi as lamparinas a álcool. Sim, são mais lentas, mas silenciosas. A experiência não é estragada pelo barulho tipo lança chamas de um fogão a gás.

Para comer, uma tortilha, pão e queijo.

Arrumar o acampamento é sempre a tarefa menos preferida por todos. Tanto por ser uma tarefa chata como por significar que o acampamento, por agora, acabou.

 

 

O que é um S24o? Ler aqui.

Gostaram da ideia? Querem vir da próxima vez? Sigam a página da Velo Corvo aqui, para saberem sempre quando houver mais passeios!

 

Ecopista do Dão

Este fim de semana finalmente consegui organizar as coisas e fui até Santa Comba Dão para pedalar cerca de 100 quilómetros na famosa Ecopista do Dão.

A ecopista do Dão foi inaugurada há alguns anos. Segue o traçado da antiga linha de comboio que unia Santa Comba Dão a Viseu. Infelizmente, muitas destas linhas de comboio antigas foram descuidadas nos anos 80 e 90, pois os sucessivos governos deram, erradamente, preferência à estradas e autoestradas e,sobretudo, ao transporte automobilizado individual. Um erro de estratégia de mobilidade que já prova ter enormes custos a nível de saúde pública e, igualmente grave, provoca um isolamento das populações mais envelhecidas. Revela a falta de um plano a longo prazo…

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A ecopista do Dão começa perto da estação de comboios de Santa Comba Dão. Para aqueles que forem até lá de carro, não se enganem.
A estação de comboio chama-se Santa Comba Dão, mas fica na aldeia do Vimieiro.

Ao chegar à estação, saídos de um IP3 absolutamente claustrofóbico (as faixas são demasiado estreitas para as velocidades permitidas e os limitadores de betão tornam esta estrada horrível), entramos no Vimieiro. A estação aparece-nos pouco depois. De traçado típico de tantas outras estações por esse país fora, esta estação, apesar de ser de tamanho médio, parece estar vazia. E de facto, está. A estação parece ser agora um apeadeiro de enormes dimensões. Parece e é.
A praça em frente à estação é uma sombra daquilo que já deve ter sido. A pensão Ambrósia parece já não estar aberta há décadas. Todas as casas perto da estação parecem desabitadas.
Perguntando a um taxista aonde é que começa a Ecopista, pois claro está, falta uma placa de indicação, é-nos dito que o actual presidente da câmara “nada faz”. Pois. De facto, parece um chavão comumente ouvido. Mas, ao deparar com este cenário um pouco triste, não posso deixar de pensar: não haverá mais uns trocos para fazer uma sinalização simples? Afinal, a Ecopista é bem perto: basta seguir a plataforma do apeadeiro até ao fim. Aí, encontramos uma placa pequenita que nos indica o caminho. O trilho que desce, é em terra. Pouco depois, começa a Ecopista própriamente dita. Aqui não falta a placa em mármore da inauguração. Pergunto-me se o dinheiro da placa em mármore não seria mais bem empregue em sinalização no início da Ecopista…

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A minha companheira foi a Marie, da Ardenne. Para quem gosta de malas e alforges clássicos, vale bem a pena visitar o site.
Falando agora da Ecopista: quando finalmente entramos na Ecopista penso que valeu bem a pena o péssimo caminho que percorremos até aqui chegar. Isto porque, a mesma está perfeitamente longe de qualquer estrada. Nem um carro se ouve! Estamos rodeados de Natureza.
Aqui, o piso é excelente. Nota-se uma ligeira subida, mas nada que não se consiga fazer tranquilamente. Aliás,parece quase plano. Quase.

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A Ecopista é de facto muito bonita. A parte mais bonita é, a meu ver, a primeira metade, de Santa Comba Dão até Tondela. Nessa primeira metade, sentimos-nos mesmo isolados dos automóveis. Até porque estamos mesmo isolados dos carros. A todos os sentidos. Barulhos só o cantar de pássaros e do rio a correr.
Também passamos por umas lindas pontes ferroviárias. Ponto de paragem obrigatório para umas fotografias!

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Ao longo da Ecopista, temos também as velhas estações de comboio que servem agora de apoio aos que por aqui passam. Apoio em forma de café (que soube muito bem depois do almoço), gelados e bolos.

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Após Tondela, a Ecopista perde um pouco o seu encanto bucólico. Aumentam os cruzamentos com estradas e os automóveis são mais presentes. Um ponto negativo: cada vez que há um cruzamento com estradas, a ciclovia é premiada com as piores e mais desconfortáveis lombas de sempre. Podiam ter sim, colocado as lombas na estrada e não na ciclovia. Mais à frente, e já perto de Viseu, em vez de lombas, o prémio é outro: barreiras tipo gincana,que temos de pacientemente de passar, umas vezes de bicicleta, outras vezes a pé.
Acredito que se assim não fosse, a ciclovia iria ser usada para outras coisas que não bicicletas.

 

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A Ecopista do Dão passa por três concelhos: Santa Comba Dão, Tondela e Viseu. Cada secção está pintada com a sua cor. Respectivamente, azul, verde e vermelho. Para além disto, há marcadores com as distâncias. E para aqueles que gostam de dormir na manjedoura (campismo selvagem), não faltam locais. Os melhores locais em termos de paisagem são sem dúvida na primeira das três partes, em Santa Comba Dão, nas margens do rio.

 

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Chegados a Viseu, vamos desembocar num largo. Mais uma vez, a Ecopista acaba como começou: assim no meio do nada. Em Viseu, tivemos só tempo de fazer uma curta e rápida visita ao centro histórico. Aqui, e muito tristemente, as pessoas estacionam os seus carros (em 2016) aonde querem. As ruas estavam cheias de gente e mesmo assim, os carros insistiam em passar nas mais estreitas ruelas. Uma triste constante em tantas cidades, vilas e aldeias aonde a população sem carro tem de conviver com o constante assédio por parte dos automóveis.
Talvez um dia as coisas mudem.
Tempo houve também, claro, para comprar mantimentos. Sim, a Ecopista sobe pouco, mas sobe. E sempre foram 50 quilómetros. E ainda haviam mais 50 quilometros para fazer. Voltando ao largo aonde inicia a Ecopista, rumámos então em direcção a Santa Comba Dão.

De facto, é ao descer que percebemos que afinal, até subimos. Conseguimos manter a bicicleta nos 20 quilómetros por hora quase sem pedalar. Ao descer, o caminho vai ficando cada vez mais bonito. E, com a luz do crepúsculo, as cores ganham ainda mais vida e significado. Paisagens inesquecíveis!

Um passeio a repetir, sem dúvida. Mas, da próxima, ficarei mais tempo em Viseu.

Queres participar nos passeios Velo Corvo? Só custam algumas subidas, mas as paisagens valem a pena. Para estares sempre a par dos próximos passeios, envia email para pedro@velocorvo.com para receberes os convites.

2º Passeio Velo Corvo: Arrábida!

Introdução

Brilhantemente marcado para o dia do trabalhador que, este ano coincidiu bizarramente com o dia da Mãe, no passado Domingo, dia 1 de Maio, deu-se o 2º passeio Velo Corvo.

O primeiro passeio foi o já habitual Tour de Sintra, (leiam o artigo sobre o passeio aqui )com a espectacular subida na rampa do Castelo / Palácio e Peninha. Para o segundo passeio, teríamos de fazer algo diferente. Já tinha ido à Arrábida há uns largos anos. E não fui de bicicleta, por isso nem contou! Uma lacuna que, pelos vistos, não era só minha. O habitual grupo dos passeios também já pedia um passeio na Arrábida há algum tempo. Por isso, todas as condições estavam reunidas para um passeio excelente.

O percurso foi definido inteiramente pelo Gonçalo Pais, autor do blog Roadbook  . Agradeço ao Gonçalo pela ajuda preciosa!

Dados do percurso:

45.24 km (Percurso com início e fim em locais diferentes) Subida acumulada: 882 m, Descida acumulada: 921 m Diferenças de Altitudes 253 m (Altitude desde: 1 m para 254 m)

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Vamos então à lista de participantes:

Directamente vindo do Brasil, de avião, não de bicicleta, tivemos o Leonardo com a sua excelente Benotto (que já passou pelas oficinas da Velo Corvo). Após uma dica do Corvo-chefe, o Leonardo poliu a bicicleta toda com Duraglit. Com tanto sol, ainda reluzia mais! Para este passeio, a Benotto foi equipada com uma mala da Ardenne, mais precisamente o modelo Sintra .
A relação de transmissão não era a mais leve e naquele dia, o Leonardo queixava-se de que a bicicleta estava mais pesada. Claro que a jantarada no dia anterior… O Leonardo fez todas as subidas e sofreu para dentro, como um ciclista a sério.

De Benfica, tivemos a presença do António Neves, do já desaparecido site Pedais.pt (uma pena!). Pronto a pedalar e cheio de vontade de subir à Arrábida, foi uma excelente companhia. Trazia uma B.T.T adaptada para uso diário. Os pneus da Schwalblelblel 2.0 que rolavam na sua bicicleta foram uma excelente ajuda nos estradões da Arrábida.

Também de Lisboa, tivemos a presença da mais recente adição à equipa Velo Corvo: Zé e a sua Eddy Merckx (sim, esta que foi completamente alterada nas Oficinas Gerais da Velo Corvo). O passeio pela Arrábida seria o perfeito baptismo pelo fogo (calor não faltou) à “nova” bicicleta.

Um já conhecido do outro passeio, o Carlos, juntou-se a nós, vindo da Linha de Cascais com a sua bonita Raleigh azul.

E claro, como não poderia deixar de ser,estava eu com a VeloCorvo laranja. Pedalei muito contente por ter uns excelentes 650Bx44 e uma transmissão com mudanças leves. Levei toda a tralha e mais alguma numa mala Ardenne Chevreuse.

O passeio em si!

Claro que, como já é hábito, começamos os passeios numa estação de comboio. Para quê sofrer a pedalar em sítios horríveis quando temos a possibilidade de pagar um bilhete de comboio urbano e começar o passeio longe da confusão?
Apanhámos o comboio da Fertagus, uns numa estação e outros noutra. A viagem de comboio até Palmela faz-se bem. E, como bónus, podemos aproveitar a linda vista do comboio enquanto este atravessa a ponte sobre o Tejo.

 

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Chegados a Palmela, somos recebidos pela acolhedora estação deprimente de comboios, com a típica frieza do azulejo de casa de banho. Logo ao lado, mas desactivada, a velha estação de comboios, bem mais bonita…

A estação antiga de Palmela.

A estação antiga de Palmela.

O passeio começou, claro, a subir. Eu avisei! Passando por alguns subúrbios menos interessantes, começámos a bonita e íngreme subida para o Castelo de Palmela.

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A estrada ainda conservava alguns de antigos marcadores e limitadores na sua berma. Uma lembrança de outros tempos mais simples…
Chegados ao Castelo, pedalámos pelas estreitas ruas cobertas de paralelos tudo para ajudar à emoção, claro.

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Saindo já pelo lado oposto do castelo, altura para a primeira paragem do dia. Primeiro pequeno almoço para alguns, segundo pequeno almoço para outros!

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Da rotunda na entra da do Castelo de Palmela, começámos então uma linda descida por uma agradável estrada, num vale. À nossa direita, lá em cima, o famoso trilho dos moinhos. À nossa esquerda, quase que tapando o Sol, a Serra da Arrábida. A paisagem é bem diferente da do passeio de Sintra: aqui, pudemos ver campos cheios de relva bem verde e muitas flores silvestres de variadas cores. Não faltou um rebanho de ovelhas. Um belo postal!

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A certo ponto, a estrada deixa de estar alcatroada. Felizmente para aqueles que trouxeram bicicletas com pneus fininhos que o piso está minimamente liso….o que não impede o primeiro furo do dia. A câmara de ar da Benotto do Leonardo disse que não aguentava mais. Primeira paragem forçada. O que até foi bom, para ver a paisagem com mais atenção.

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Enquanto o Leonardo mudava a câmara de ar, apareceu o Carlos,responsável pela página de Facebook do  Portugal Bikepacking . A bicicleta dele é espectacular. Pronto, tem um bocado de carbono a mais para meu gosto, mas aquele guiador…aquele guiador !

O Zé estreou a sua bomba de quadro Zéfal  e rapidamente  estávamos de novo a rolar. A estrada bonita tornou-se numa subida bonita. Para aqueles com os pneus largos e mudanças leves (todos menos o Leonardo), foi mais ou menos tranquilo. Para o eterno sacrificado (Leonardo), foi um bocadinho menos tranquilo. Acabada a subida, mais um entroncamento: estrada nacional grande ou estrada secundária a descer.

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O caminho do Gonçalo dizia descida pela estrada secundária. Mais uma linda estrada. Linda estrada que foi dar a uma subida com 10% de inclinação. 10% não parece grande inclinação. Até que começámos a subir. Custou.

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Felizmente, depois da subida e depois de alguns estradões relativamente tranquilos, fomos dar a um café. Terceiro pequeno almoço do dia e primeiro gelado do dia. Enquanto comia o meu Cornetto de morango, apareceu um grupo de cicloturistas japoneses. Estes demonstraram a sua felicidade ao encontrar outros ciclistas olhando para nós semi-fixamente. Um que ficou mais entusiasmado admirou a minha Velo Corvo laranja durante algum tempo. Depois de um simples cumprimento, continuamos a viagem. Agora sim, estávamos quase a chegar às vistas bonitas.

 

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Valeu a pena o esforço para aqui chegar! Realmente, o nosso país tem paisagens lindas. Daqui já se via Tróia. E, ao contrário do passeio de Sintra, ainda havia muita subida e descida a fazer.
Mas por agora, já não dava para um 4º pequeno almoço. Seguimos então para o Portinho da Arrábida para o almoço! Realmente, já me tinha esquecido de quão bonito é este cantinho.

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Depois da paragem para o almoço, tínhamos, claro está, mais subidas e descidas a fazer. Agora, o calor já apertava a sério.

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Um encontro com uns cicloturistas que vieram de longe. Propuseram a troca das bicicletas. Recusámos, e dei-lhes ânimo ao dizer que o caminho para a frente só ficava pior e com mais subidas.

 

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….e já a caminho de Setúbal!

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Já perto da estação de comboios, houve tempo para mais um gelado. Depois, toca a entrar no comboio. Viagem calma até casa. Tudo caladinho e a repousar.

 

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Para aqueles que ainda não participaram nos passeios Velo Corvo, recomendo vivamente a irem ao próximo. A diversão é garantida! E, pelo preço de um bilhete de comboio urbano, não chateia a carteira. Para se inscreverem na lista de emails, enviem um email para pedro@velocorvo.com.