Editorial
O mundo digital é hoje inescapável e sufocante. O mais comum é vermos pessoas a olhar fixamente para um qualquer ecrã de um aparelho electrónico. E com o excesso de informação que nos passa diante dos nossos olhos constantemente via esses mesmos ecrãs, ficamos insensíveis. Se o texto for demasiado longo, não lemos. O excesso de informação tem destas coisas: de repente, ficamos sem tempo e interesse para nada.
Daí, a meu ver, a importância das revistas em papel: estas obrigam-nos a parar, a sentir e a contemplar o objecto que está nas nossas mãos. O mesmo poderá ser dito da fotografia analógica, que possui uma característica “palpável” que a fotografia digital parece não ter. Ou então os já declarados mortos discos de viníl ou até mesmo as cassetes que continuam a sobreviver e a crescer nesta avalanche de “inovações” tecnológicas. Relativamente às bicicletas, o mesmo poderá ser dito dos quadros de aço. Para os puristas, é o único material para fazer um quadro. A sua invejável durabilidade e a sua beleza intemporal, com os seus tubos finos elegantes, mostram porquê.
A ideia de lançar o “Vôo do Corvo” nasce precisamente da conjunção dos factores acima descritos, juntamente com a falta de revistas sobre bicicletas que não sejam catálogos de marcas. Resumindo, a expressão da cultura da bicicleta vista através dos olhos de um cicloturista e através de um prisma mais profundo – até mesmo poético!
Porquê o formato (semi) artesanal? Porque gosto. Gosto da imperfeição da sua construção, da sua organicidade.
Nestas páginas tenciono escrever sobretudo sobre bicicletas e seu uso insistente. Sobre fotografia, sobre coisas antigas, sobre máquinas de escrever, sobre canetas…
Mas sobretudo, espero conseguir exprimir por palavras e imagens aquilo que nos une: acreditarmos que a bicicleta é a nossa liberdade.
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