Este fim de semana finalmente consegui organizar as coisas e fui até Santa Comba Dão para pedalar cerca de 100 quilómetros na famosa Ecopista do Dão.
A ecopista do Dão foi inaugurada há alguns anos. Segue o traçado da antiga linha de comboio que unia Santa Comba Dão a Viseu. Infelizmente, muitas destas linhas de comboio antigas foram descuidadas nos anos 80 e 90, pois os sucessivos governos deram, erradamente, preferência à estradas e autoestradas e,sobretudo, ao transporte automobilizado individual. Um erro de estratégia de mobilidade que já prova ter enormes custos a nível de saúde pública e, igualmente grave, provoca um isolamento das populações mais envelhecidas. Revela a falta de um plano a longo prazo…
A ecopista do Dão começa perto da estação de comboios de Santa Comba Dão. Para aqueles que forem até lá de carro, não se enganem.
A estação de comboio chama-se Santa Comba Dão, mas fica na aldeia do Vimieiro.
Ao chegar à estação, saídos de um IP3 absolutamente claustrofóbico (as faixas são demasiado estreitas para as velocidades permitidas e os limitadores de betão tornam esta estrada horrível), entramos no Vimieiro. A estação aparece-nos pouco depois. De traçado típico de tantas outras estações por esse país fora, esta estação, apesar de ser de tamanho médio, parece estar vazia. E de facto, está. A estação parece ser agora um apeadeiro de enormes dimensões. Parece e é.
A praça em frente à estação é uma sombra daquilo que já deve ter sido. A pensão Ambrósia parece já não estar aberta há décadas. Todas as casas perto da estação parecem desabitadas.
Perguntando a um taxista aonde é que começa a Ecopista, pois claro está, falta uma placa de indicação, é-nos dito que o actual presidente da câmara “nada faz”. Pois. De facto, parece um chavão comumente ouvido. Mas, ao deparar com este cenário um pouco triste, não posso deixar de pensar: não haverá mais uns trocos para fazer uma sinalização simples? Afinal, a Ecopista é bem perto: basta seguir a plataforma do apeadeiro até ao fim. Aí, encontramos uma placa pequenita que nos indica o caminho. O trilho que desce, é em terra. Pouco depois, começa a Ecopista própriamente dita. Aqui não falta a placa em mármore da inauguração. Pergunto-me se o dinheiro da placa em mármore não seria mais bem empregue em sinalização no início da Ecopista…
A minha companheira foi a Marie, da Ardenne. Para quem gosta de malas e alforges clássicos, vale bem a pena visitar o site.
Falando agora da Ecopista: quando finalmente entramos na Ecopista penso que valeu bem a pena o péssimo caminho que percorremos até aqui chegar. Isto porque, a mesma está perfeitamente longe de qualquer estrada. Nem um carro se ouve! Estamos rodeados de Natureza.
Aqui, o piso é excelente. Nota-se uma ligeira subida, mas nada que não se consiga fazer tranquilamente. Aliás,parece quase plano. Quase.
A Ecopista é de facto muito bonita. A parte mais bonita é, a meu ver, a primeira metade, de Santa Comba Dão até Tondela. Nessa primeira metade, sentimos-nos mesmo isolados dos automóveis. Até porque estamos mesmo isolados dos carros. A todos os sentidos. Barulhos só o cantar de pássaros e do rio a correr.
Também passamos por umas lindas pontes ferroviárias. Ponto de paragem obrigatório para umas fotografias!
Ao longo da Ecopista, temos também as velhas estações de comboio que servem agora de apoio aos que por aqui passam. Apoio em forma de café (que soube muito bem depois do almoço), gelados e bolos.
Após Tondela, a Ecopista perde um pouco o seu encanto bucólico. Aumentam os cruzamentos com estradas e os automóveis são mais presentes. Um ponto negativo: cada vez que há um cruzamento com estradas, a ciclovia é premiada com as piores e mais desconfortáveis lombas de sempre. Podiam ter sim, colocado as lombas na estrada e não na ciclovia. Mais à frente, e já perto de Viseu, em vez de lombas, o prémio é outro: barreiras tipo gincana,que temos de pacientemente de passar, umas vezes de bicicleta, outras vezes a pé.
Acredito que se assim não fosse, a ciclovia iria ser usada para outras coisas que não bicicletas.
A Ecopista do Dão passa por três concelhos: Santa Comba Dão, Tondela e Viseu. Cada secção está pintada com a sua cor. Respectivamente, azul, verde e vermelho. Para além disto, há marcadores com as distâncias. E para aqueles que gostam de dormir na manjedoura (campismo selvagem), não faltam locais. Os melhores locais em termos de paisagem são sem dúvida na primeira das três partes, em Santa Comba Dão, nas margens do rio.
Chegados a Viseu, vamos desembocar num largo. Mais uma vez, a Ecopista acaba como começou: assim no meio do nada. Em Viseu, tivemos só tempo de fazer uma curta e rápida visita ao centro histórico. Aqui, e muito tristemente, as pessoas estacionam os seus carros (em 2016) aonde querem. As ruas estavam cheias de gente e mesmo assim, os carros insistiam em passar nas mais estreitas ruelas. Uma triste constante em tantas cidades, vilas e aldeias aonde a população sem carro tem de conviver com o constante assédio por parte dos automóveis.
Talvez um dia as coisas mudem.
Tempo houve também, claro, para comprar mantimentos. Sim, a Ecopista sobe pouco, mas sobe. E sempre foram 50 quilómetros. E ainda haviam mais 50 quilometros para fazer. Voltando ao largo aonde inicia a Ecopista, rumámos então em direcção a Santa Comba Dão.
De facto, é ao descer que percebemos que afinal, até subimos. Conseguimos manter a bicicleta nos 20 quilómetros por hora quase sem pedalar. Ao descer, o caminho vai ficando cada vez mais bonito. E, com a luz do crepúsculo, as cores ganham ainda mais vida e significado. Paisagens inesquecíveis!
Um passeio a repetir, sem dúvida. Mas, da próxima, ficarei mais tempo em Viseu.
Queres participar nos passeios Velo Corvo? Só custam algumas subidas, mas as paisagens valem a pena. Para estares sempre a par dos próximos passeios, envia email para pedro@velocorvo.com para receberes os convites.
Filipe Sousa
07.06.2016 em 12:27Não sei a hora a que chegaram a Viseu, já que nos fins de semana ao final da manhã e ao final da tarde é habitual formarem-se grupos de caminhantes a ocuparem transversalmente a ecopista, o que para quem vai de bicicleta é um pouco aborrecido, termos de nos chegar às pessoas e pedir “com licença”, mas fora isso e as barreiras já descritas é a melhor sem duvida, já que no nosso país chegam a chamar ecopista a troços de escassos quilómetros onde a continuação são trilhos de terra e pedras apenas para o pessoal do BTT…
Parabéns pela publicação! E quem é de Viseu, e agora com os dias maiores tem aqui uma boa forma de passar o dia… ir até ao Vimeiro, ver a casa do chefe de estado do Estado Novo, subir um pequeno troço da IP3 (onde a velocidade máxima que os automóveis deviam cumprir é 60km/h), almoçar por lá e fazer o caminho de volta, podendo-se fazer umas pausas nas margens do Dão!
Pedro Gil
07.06.2016 em 15:14Obrigado pelas sugestões! Quando lá voltar, vou explorar tudo bem melhor. Realmente encontrámos muito pouca gente pelo caminho, mas já a chegar a Viseu a coisa mudou. Acredito que aos Sábados e Domingos de manhã seja bem complicado lá circular.
Tiago Lopes
11.08.2018 em 20:20Viva! A IP3 de Santa Comba Dão à Ecopista permite bicicletas? É que queria passar por essa estrada para lá mas não encontro info sobre essa parte da IP3. Obrigado.
Pedro Gil
14.08.2018 em 11:37Pelo que sei, sim, por muito horrivel que sejam aqueles 400 ou 500 metros…