Viagem Lisboa – Montargil- dia 1: no mapa, parecia mais perto.
Início-
“Mas não vai estar muito calor para a semana?”
“Sim, e daí? Até parece que vais fazer uma corrida. São só para aí 100 quilómetros”
“E vamos até aonde?”
“Ouvi dizer que Montargil era giro”
“Ok, bora.”
Vamos pedalar-
E assim foi. Aproveitando alguns dias livres, decidimos ir até Montargil. Tentar levar menos tralha, ver paisagens bonitas e sofrer em estradas intermináveis ao mesmo tempo que pensávamos o que iríamos escrever no anúncio do OLX para vender as bicicletas.
A nossa viagem começou em Carnaxide. Daí, era um saltinho até a estação de Alcântara-Terra. Em Algés, passa por nós um tipo a pedalar uma bicicleta de supermercado a todo gás. Já em Belém, ainda pedalava xeidaforça até que lhe ficou um pedal pelo caminho. Como íamos apanhar um comboio, não podíamos parar. Desculpa, amigo!
Já em Alcântara, foi tempo de comprar o bilhete.
Seguiu-se a habitual luta com a máquina de bilhetes. Estas máquinas, instaladas pelo departamento de sofrimento e insatisfação da C.P, foram desenvolvidas para tornar a compra de um simples bilhete numa experiência sádico-científica. Aposto que o chefe de estação está à janela, a avaliar o tempo que cada pessoa demora para comprar o raio do bilhete. E esfrega as mãos. E ri.
Como o pequeno almoço foi logo queimado no duro trajecto Algés-Alcântara, estava na altura do reforço. Logo ali estava um quiosque /café que tinha bolas de Berlim. A comida ideal, claro. E assim foi. A comer cada um a sua bola de Berlim, ouvíamos os rapazes tóxico-independentes.
“Aiiiiiii, Tónito, ganda ginga”
“Sim, foram duzentas balas, fui bescá-la ontem” (o Tónito pedalava uma bicla da Decathlon)
Nisto, o Tónito repara nos nossos bólides e comenta. “Elah, dois Brooks. São iguais aos meus. Meus, salvo seja”
Pois. Obrigado Alcântara.
Entrámos no confortável comboio da C.P que nos iria levar até a Azambuja. Viagem tranquila.
Já na Azambuja, pudemos contemplar a belíssima arquitectura da estação de comboio.
Reparem só nesta obra mestra. A rampa de acesso, tão acolhedora.
Na Azambuja, houve tempo para comprar água, pois já não estava aquele fresquinho matinal, tirar fotos e reparar que nesta terra se podia comer sandes de tripa, bucho e courato. Que maravilha.
Foi tempo de começar a pedalar. Estrada Nacional até Santarém. Tudo tranquilo. Breve paragem para ver este muro pintado com frases bíblicas. Belo trabalho.
Já me tinham dito que havia uma subida até Santarém muito difícil. Mas como ainda era cedo, fez-se bem.
Santarém é uma terra muito bonita. Mas, neste dia, foi só de passagem, pois para além de querermos chegar a Montargil antes de escurecer, disseram-nos que em Almeirim é que se comia boa sopa da pedra. E já estava a ficar perto da hora de almoçar.
A descida de Santarém até Almeirim é qualquer coisa. Recomendo.
Aliás, esta paisagem toda é linda.
Em Almeirim, almoço excelente. Por 5,99€, comemos um “menu” que incluía sopa da pedra, um copo de vinho ( que pedimos para trocar por Coca-Cola, “não devia trocar, mas vá, pode ser” ) e uma bifana. O restaurante também não tinha serviço de esplanada, mas as coisas apareceram na mesa de qualquer maneira. “Se perguntarem, não fui eu que vim aqui trazer a comida”. “Claro, claro”.
A sopa estava tão boa que nem me lembrei de pedir cubos de gelo para a Coca-Cola. Porque raio é que em Portugal parece haver uma falta tremenda de gelo? Haverá algum racionamento de gelo que desconheço?
Após Almeirim, ou melhor, após o almoço, pedalar foi complicado. É complicado depois do almoço.
Estradas intermináveis até Montargil. Raios, no mapa parecia mesmo perto.
Nestas alturas, pensamos em trocar de modalidade, comprar bicicletas eléctricas, pedir boleia a estranhos.
Enfim. Felizmente estava muito calor e sol, para ajudar.
Após quatro horas a pedalar, chegámos ao parque de campismo! Que naquela altura do campeonato, parecia um palácio. Mas, após reflexão cuidada no dia seguinte, as coisas não eram bem o que pareciam. Mas isto fica para a segunda parte.
Até lá, apertem com vocês mesmos!