Tio, o ciclista irritado e a semana da Mobilidade- Marginal sem carros.
Uma vez por ano e fazendo uso da sua benevolência sem limites, a Câmara Municipal de Oeiras fecha (uma parte) da Marginal ao trânsito automóvel. Com isto, esperam sensibilizar o povo a novas e divertidas formas de mobilidade, ao mesmo tempo que garantimos um futuro mais verde para as nossas crianças. Pelo menos, foi o que ouvi na telefonia.
Como domingo de manhã é altura de pedalar, apontei o guiador na direcção da Marginal para ver se tal era o caso.
A minha aventura começou em Algés.
- Nenhum dos runners leva meias até ao joelho. Depois queixem-se das varizes. Ponto extra para o corredor da esquerda. Leva calções demasiado curtos.
Logo no início do “paredão”, começou. Um fenómeno que não tem muito a ver com a mobilidade, mas com a estética. Homens a correr de tronco nu. Ou como se chama agora: running. Já foi Jogging. Mas voltaram ao mais simples Running. Se calhar, o que diferencia as coisas é mesmo o facto de ter de ser correr de tronco nu. Isso e usar aquelas meias para as varizes, até ao joelho. Pessoalmente não corro. Mas todas as pessoas que vejo a correr vão com um ar infeliz. Muito infeliz. Sintomático.
Já na Marginal, o panorama era este. Gente à esquerda, à direita, em cima e em baixo. Bicicletas, cães, patins, pessoas a fazerem aeróbica, tudo à mistura. Para facilitar a mobilidade, claro.
Uma escuteira avisava ao início: bicicletas à esquerda, pessoas à direita. Algo que se passou durante mais 12,4 metros. A partir daí, era cada um por si.
Um pouco mais à frente, um grupo de meninas esperava que o Pug delas se decidisse a levantar. Infelizmente, o cão parecia mais interessado na imobilidade.
- “Vai, Bobby, anda!” O focinho do cão diz tudo – quero ir para casa, parem de olhar para mim, não consigo respirar!
Um pouco mais à frente, e perto de uma barulhenta aula de aeróbica, um tipo com uma mochila em forma de garrafa, distribuía suminhos para o povo cheio de sede. Uma iniciativa, claro, para fomentar a mobilidade. Tal como a aula barulhenta. Usámos a nossa mobilidade para nos desviarmos e fugirmos dali.
Chegando ao fim da zona fechada ao transito, rapidamente demos a volta para voltar para casa. Já estávamos fartos de tanta mobilidade.
Ao regressar, um grupo de cães de tamanhos diversos passeavam pessoas, ocupando todas as faixas. Os cães não ouviram o programa de rádio que eu ouvi.
Breve paragem em paço de arcos. Gostei particularmente da tabuleta. A mensagem é clara.
Quase a chegar a Algés, vimos um bonito espetáculo de pessoas a fazerem Ioga. Já para treinarem para 2ª feira quando tiverem de se meter no carro outra vez. Ouvi dizer que faz bem aos nervos, fazer Ioga. Como não tinha trazido a minha roupa especial para Ioga, segui caminho.
Pelo menos, o passeio serviu para ver a paisagem bonita sem arriscar levar com um carro em cima.
A parte triste disto tudo é que saí dali sem saber para que é que servia aquele espetaculo todo. Aulas de aeróbica com banda sonora de Reaggaeton? Mobilidade estilo ANA MALHOA?
Passear cães ? Arejar bicicletas BMX com os selins demasiado alto? Beber suminhos grátis? Fazer rastreios da pressão arterial? Usar a bicicleta como meio de transporte? Fazer exercício em tronco nu?
Resumindo: qualquer ideia didáctica que o evento pudesse ter, caiu sempre em saco roto.
No meio destes eventos popularuchos / pimba sem pés nem cabeça, tenho de perguntar: é com esta gente que contamos para fazer ciclovias?
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